O Volume 2 do Planet Hits foi a prova definitiva do acerto da joint-venture PolyGram-EMI: "Se é para o bem e felicidade da nação digo ao povo que fico". O projeto deixou de ser uma aposta e se tornou uma potente franquia, consolidando-se como uma vitrine indispensável de grandes músicas e sucessos daquele ano.
A Jornada Auditiva do Volume 2
01. Queen — "Heaven for Everyone": O álbum "Made in Heaven" (1995), lançado após a morte de Freddie Mercury, é uma verdadeira colcha de retalhos de material de arquivo do Queen. A faixa é um grande exemplo do trabalho de Brian May e Roger Taylor, que aplicaram a identidade sonora da banda a sobras vocais de Mercury para criar um material que soasse inédito. A canção, na verdade, era uma participação vocal de Mercury no projeto solo The Cross, de Roger Taylor, tendo sido lançada como single inexpressivo em 1988. No entanto, o relançamento, após a morte de Mercury, transformou-a em um hit global, provando o legado duradouro da banda. É com esse fervor e emoção que a faixa abre a coletânea Planet Hits 2.
02. Bon Jovi — "Lie to Me": A banda provou que ainda tinha muito a oferecer após o sucesso da coletânea "Cross Roads - The Best Of" (1994). O álbum seguinte, "These Days" (1995), trouxe a belíssima balada romântica "Lie to Me". A faixa rapidamente se tornou recorrente nas FMs brasileiras, dominando especialmente os programas noturnos de músicas lentas (Love Songs), solidificando o lugar da banda como ícone do rock romântico na década.
03. Andru Donalds — "Save Me Now": Outro grande acerto da EMI foi consolidar a carreira de artistas como Andru Donalds, investindo em "Save Me Now" como single principal (tema de novela), o que foi fundamental para desmistificar sua imagem de cantor apenas de reggae. A canção ganhou peso de single apenas no Brasil, graças à sua imersão como tema romântico da novela Cara & Coroa. Um dado curioso: no álbum do artista, ela encerra o disco, mas na trilha internacional da novela, ela abre trilha sonora, provando que os últimos em uma forte curadoria, podem ser os primeiros.
04. Masterboy — "Land of Dreaming (US Radio Mix)": Masterboy provou a necessidade de criar álbuns de qualidade, e não apenas singles. O projeto de eurodance alemão demonstrou versatilidade com o single dancehall "Land of Dreaming", pertencente ao album Generation Of Love que ganhou destaque na rádio na sua versão original gospel (tema da novela Vira Lata), mas a coletânea optou pela poderosa versão US (americana).
05. Michael Learns To Rock — "That's Why (You Go Away)": A gravadora EMI acertou ao licenciar o selo Medley Records, trazendo o soft rock dinamarquês do Michael Learns To Rock para o Brasil. A canção foi destaque do álbum "Played On Pepper", o terceiro da banda, que, apesar de ter iniciado suas atividades em 1991, alcançaria sucesso global somente a partir deste trabalho. Com esta balada, a banda garantiu grande destaque e consolidou a presença de artistas nórdicos no mercado nacional. A canção, posteriormente, foi incluída na trilha sonora da novela Explode Coração.
06. Sheryl Crow — "Can't Cry Anymore": A curadoria da coletânea trazia faixas de artistas com ciclos de divulgação estendidos, cuja inclusão de "Can't Cry Anymore" permitiu que o aclamado "Tuesday Night Music Club" (1994) da artista se estendesse até 1996 no Brasil, seguindo o timing particular da Sheryl Crow em território nacional. No entanto, a canção não teve tanto destaque, já que hits mais potentes completaram o ciclo de divulgação, mesmo que de forma anacrônica, em 1995.
07. Mike & The Mechanics — "Over My Shoulder": É fato que a banda quebrou um longo jejum de hits desde a década de 1980 com o álbum "Beggar on a Beach of Gold" (1995). O grande destaque foi esta balada folk. Contudo, o vocalista Paul Carrack demonstrou foco dividido: ele gravou seu álbum solo, "Blue Views", em paralelo com a divulgação da banda. Sua falta de prioridade ficou evidente ao ousar incluir uma versão acústica de "Over My Shoulder" como lado B de seu próprio single solo, "Eyes of Blue", competindo diretamente com a promoção da versão original. A canção também foi içada a tema da novela Cara & Coroa, reforçando a trilha sonora como forte concorrente do Planet Hits 2.
08. Supergrass — "Alright": O hit impediu que o Supergrass fosse apenas mais um sucesso momentâneo no cenário indie rock britânico. Sua inclusão no filme As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless) deu à música uma visibilidade internacional crucial. A canção se provou atemporal, transformando-se em um hino constante em jogos de futebol na Inglaterra. É esse som solar, alegre e divertido que define o legado do Supergrass até hoje.
09. DJ BoBo — "Let's Come Together": O DJ BoBo, com o álbum de remixes "Just For You" (1995), emplacou esta faixa inédita — uma aposta ousada flertando com uma batida dancehall próxima de uma balada. O fato de ter criado um single inédito em um álbum de remixes prova a necessidade de o artista criar trabalhos de qualidade, e não apenas singles avulsos. Curiosamente, o mesmo álbum continha "It's Time For Christmas", uma versão natalina de "Let's Come Together", que foi tocada como tema natalino no ano anterior nas FMs.
10. Faith No More — "Evidence": O Faith No More foi vítima de uma estratégia de mercado equivocada da PolyGram, que, ao licenciar a banda contratada pela London Records, optou por incluir como bonus track do álbum "King for a Day, Fool for a Lifetime" (1995) um B-side do single "Digging The Grave": a canção "I Started a Joke" (um cover dos Bee Gees). Pelos exageros e tipos que Mike Patton faz na canção e pelo arranjo de teclado que parece ter vindo de um karaokê mequetrefe, ela denota ser mais uma paródia do que uma releitura séria. Para piorar a situação, a PolyGram a promoveu como tema da novela História de Amor. O sucesso estrondoso, mas pejorativo, desse cover dispersou o público. É incompreensível que a gravadora tenha insistido em relacionar a banda a um cover de tom jocoso, depois de ter massificado a audiência com a balada "Easy" em 1993, criando dissonância entre o que o público entendeu e o que a banda de fato tinha de sério para oferecer. Portanto, usá-la por aqui como single do "King for a Day, Fool for a Lifetime" foi piada de mau gosto com aqueles que tanto respeitam os Bee Gees, fazendo a banda cair em descrédito por aqui. Com tudo isso, o público não prestou a atenção devida à balada "Evidence", a faixa correta que divulgava seu álbum.
11. Boyzone — "Father and Son": É preciso reconhecer a insistência da PolyGram com os irlandeses. Para promover o álbum "Said and Done" (1995), a gravadora elegeu este cover de Cat Stevens como carro-chefe, que também foi tema da novela Explode Coração. Embora a escolha tenha sido comercialmente certeira, ela se tornou um empecilho para a boy band, criando uma dependência de regravações, reforçada ao escolher outro cover como primeiro single do álbum seguinte. Essa repetição de fórmula, certamente, renderia cenas nos próximos volumes da série Planet Hits!
12. Roxette — "I Don't Want to Get Hurt": Esta faixa entra na categoria de ciclo de divulgação estendido. A música é uma das quatro faixas inéditas apresentadas na coletânea "Don't Bore Us! Get To The Chorus! Roxette's Greatest Hits" (1995). Destas, "I Don't Want to Get Hurt" e "You Don't Understand Me" foram os grandes hits. A inclusão desta faixa no Planet Hits 2 evidencia o esforço da EMI em capitalizar o sucesso do Roxette no Brasil e em manter o interesse do público antes do lançamento de um novo álbum de estúdio.
13. Passengers feat. Luciano Pavarotti — "Miss Sarajevo": Em 1996, o U2 lançou o projeto Passengers (Original Soundtrack 1), e a grande surpresa foi "Miss Sarajevo", a união de Bono Vox com o tenor Luciano Pavarotti. Essa obra-prima musical foi um evento cultural que fez as rádios brasileiras pararem. Quem imaginaria ouvir Pavarotti tocando na Jovem Pan e nas principais rádios pop da concorrência? Isso só foi possível graças à audácia do projeto.
14. The Cranberries — "Zombie": Apoteose final e vítima de atraso. O hit global só se consolidou de fato em 1996 no Brasil, vítima da lentidão das gravadoras majors em divulgar seus singles. Esse atraso permitiu que o cover dance do projeto ADAM feat. Amy (1995) se popularizasse primeiro, gerando um choque no público. Ao ouvir a versão original, os brasileiros foram surpreendidos pela atmosfera apocalíptica e cavernosa do rock que a banda irlandesa era capaz de entregar, um contraste intenso com as baladas que haviam marcado sua chegada ao país. É essa versão poderosa que apoteoticamente fecha o disco!
Nota de memória afetiva: É com orgulho que eu digo que na época que não tinha dinheiro pra ter os CDs, eu emprestei esta coletânea do vizinho, o atual jornalista da SporTV Leo Lourenço, que hoje mora em São Paulo. E nós cambiávamos CDs pra copiar as músicas para fita K7. Quando foi 2013, achei esse CD baratinho em um sebo de Campinas e peguei junto com o Volume 4.
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