domingo, 22 de junho de 2025

Pais e Filhos - A Arte em Família... (2013)

 

De Pai pra Filho, de Mãe pra Filha
Uma coletânea em dois volumes que celebra o legado musical que atravessa gerações.

Senta, que lá vem história!
Nascida da amizade e do amor pela música entre Denis Rodrigues Gazeta e Marcelo Silva, esta seleção é um tributo emocionante às famílias que fizeram — e ainda fazem — a trilha sonora do Brasil. Aqui, cada faixa constrói uma ponte entre o ontem e o hoje: ouvimos primeiro as vozes que marcaram uma geração e, na sequência, seus filhos e filhas que deram continuidade à arte com personalidade própria.

Logo no primeiro volume, Elis Regina abre os trabalhos com “Trem Azul” remixada por DJ Zé Pedro. Uma homenagem inevitável a quem deixou um legado incontestável — que reverbera forte em seus três filhos: Pedro Mariano e Maria Rita, frutos do casamento com o pianista e arranjador César Camargo Mariano, e João Marcello Bôscolli, filho de seu primeiro casamento com o produtor Ronaldo Bôscoli. Pedro e João estrearam seus álbuns em 1995 pela Sony Music. Entretanto, Pedro ficou conhecido logo que interpretou "Preciso Dizer que Te Amo" no especial Som Brasil Cazuza onde seus atributos artísticos mais destacados e ser um Camargo Mariano foi reafirmação de um talento já existente.

Maria Rita começou timidamente nos anos 90, gravando um jingle da marca Ripasa S/A (“Na vida, cada um tem seu papel…”), mas foi por insistência de Milton Nascimento que seu álbum de estreia, Pietá (2002), veio à tona pela Warner. A partir do terceiro disco, Samba Meu, ela se aventuraria com força no samba.

Djavan, presente com um remix moderno de “Azul”, presente no album "Na Pista" (2005) abre a ponte para o trabalho de seu filho Max Viana, que embora já atuasse como guitarrista e arranjador ao lado do pai, estreou como cantor com o álbum No Calçadão (2002). A faixa escolhida aqui, “Canção de Rei”, foi tema da novela Sabor e Paixão, dando início à sua própria trajetória musical.

Jair Oliveira e Luciana Mello, filhos de Jair Rodrigues, são outro caso emblemático de herança musical. Conhecidos ainda pequenos como Jairzinho e Luciana Rodrigues, já demonstravam talento nato. Jair, além de cantor, compunha — inclusive para a irmã. “Simples Desejo”, por exemplo, é dele com Daniel Carlomagno.
Em meados de 2000, mais tarde, João Marcello Bôscolli fundaria o selo Trama, abrindo espaço para seu irmão Pedro e também para os amigos Jair e Luciana e também Claudio Zoli — com quem divide vocais em "Flor do Futuro" — lançarem seus discos.

Wanessa Camargo, filha de Zezé Di Camargo, embora tenha idade próxima à de Sandy, estreou como cantora em 2000, aos 17 anos, após um período de estudos nos Estados Unidos — país com o qual guarda conexão afetiva e fluência no inglês. A faixa “Tanta Saudade”, de 2001, é a adaptação da balada americana “Heaven Came Down” (Jason Deere e Bonnie Baker), com versão em português por Dudu Falcão. Um dado curioso: em 1997, aos 15 anos, Wanessa fez um dueto ao vivo com Eros Ramazzotti no Domingão do Faustão, interpretando “Cose Della Vita”.

João Nogueira, sambista clássico, encerra um dos momentos mais nostálgicos da coletânea ao lado do grande Emílio Santiago em “Amigo É pra Essas Coisas”. Anos mais tarde, seu filho, Diogo Nogueira, estrearia oficialmente em 2007 — sete anos após a morte do pai. Diogo, que até então cogitava carreira no futebol, abraçou o samba com convicção. O mais impressionante é como seu registro vocal evoca a mesma sonoridade firme e calorosa do pai. Mais que homenagem, sua carreira é uma continuação viva de um legado.

A linhagem Caymmi também brilha forte na coletânea. De Dorival Caymmi a seus filhos Danilo, Nana e Dori, a música é herança e missão. E o ciclo não parou: Alice Caymmi, filha de Danilo, também enveredou pelo canto — com estilo, ousadia e densidade emocional que revelam como a arte pode reinventar-se a cada geração.

No segundo volume, Gilberto Gil e sua filha Preta Gil mantêm viva a chama. Preta só se lançou em 2003, depois de atuar como atriz e diretora de arte de videoclipes. Até o fechamento desta edição, seu filho Fran Gil ainda não havia se lançado oficialmente. Preta gravou “Mutante”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, exclusivamente para a novela Mutantes, da RecordTV. Aliás, o casal musical Rita e Roberto também tem um herdeiro: Beto Lee, guitarrista e cantor — mais uma deixa para o Volume 2.

Fábio Jr aparece aqui em uma releitura de "Fogo e Paixão" de Wando, que gravou para o tema da novela Chamas da Vida (RecordTV). 
Fiuk, filho de Fábio Jr., estreou em 2009 como vocalista da banda Hori e como ator da Malhação. Após o fim da banda, incentivado pelo pai, lançou-se como cantor solo. Seu single “Quero Toda Noite”, com Jorge Benjor, chegou como tema da novela Aquele Beijo. A canção até ganhou destaque, mas a performance vocal não convenceu. Após uma sequência de altos e baixos na atuação e uma superexposição no Big Brother Brasil, sua carreira acabou marcada por crise de identidade artística e questões pessoais mal resolvidas — o que hoje mantém seu futuro incerto na música.

O amor musical também uniu Ivan Lins e Lucinha Lins, que dividem os vocais na delicada “Amor”, faixa do disco Daquilo Que Eu Sei, lançado em 1981, período em que ainda eram casados. O casal também gerou talento: Cláudio Lins, que ficou conhecido do grande público como o pianista Bruno na novela História de Amor. Mas engana-se quem pensa que sua baixa frequência na televisão representa uma carreira discreta. Aos 52 anos, Cláudio acumula trabalhos significativos no teatro musical, onde se firmou como ator, cantor e compositor — levando adiante a veia artística da família, com personalidade e consistência.

Luiza Possi, filha de Zizi Possi, foi oficialmente apresentada ao grande público no Fantástico, em 2002, aos 18 anos. Antes disso, já havia dado sinais de sua veia artística ao participar do CD da banda LS Jack. Com uma sonoridade delicada e surpreendentemente madura, Luiza trouxe à cena a soma de duas potências: a herança vocal da mãe e o trabalho nos bastidores do pai, Liber Gadelha, produtor e proprietário da Indie Records.
A canção “Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)”, interpretada por Zizi Possi, faz parte de seu último registro fonográfico ao vivo, o show Tudo Se Transformou. A faixa voltou ao centro das atenções ao integrar a trilha da novela A Vida da Gente (2011). Já Luiza aparece com “Cantar”, incluída no álbum Tudo Se Transforma, de 2009, seu quarto trabalho de estúdio — reafirmando sua identidade e sensibilidade próprias, mesmo com o peso de um sobrenome consagrado.

Chitãozinho & Xororó, hoje com quase 60 anos de carreira, demoraram a conquistar o grande público. A explosão do sertanejo no mainstream veio apenas no início dos anos 1990, quando o gênero finalmente ganhou espaço nas grandes mídias. A faixa “Coração Sertanejo”, tema da novela O Rei do Gado, é símbolo desse momento de virada — quando a música de raiz passou a ser consumida por um público mais amplo. A trilha sonora da novela foi um sucesso de vendas, assim como o álbum Clássicos Sertanejos, lançado na mesma época.
E não podia faltar um caso curioso e afetivo: a trajetória de Sandy & Junior, filhos de Xororó, começou por acaso — ou por destino. A dupla surgiu a partir de um pedido de Lima Duarte, que buscava uma dupla mirim para participar do Som Brasil, em 1989. Como Chitãozinho ainda não tinha filhos cantores, Xororó sugeriu os próprios filhos. O convite foi aceito de imediato, e ali nascia uma das duplas infantis mais marcantes da música brasileira.
O fato é que Sandy & Junior estrearam oficialmente em 1991, já com o respaldo do sucesso do pai — mas o talento e o carisma da dupla logo os colocaram em um patamar próprio. Tanto eles quanto Chitãozinho & Xororó consolidaram discografias importantes na PolyGram, marcando gerações com suas músicas.

Jane Duboc nos presenteia com “Só Nós Dois”, sucesso que integra seu terceiro álbum lançado pela gravadora Continental, consolidando sua carreira como uma das grandes intérpretes da música romântica brasileira. Seu filho, Jay Vaquer, trilhou um caminho diferente: surgido discretamente nos anos 2000, evitou usar o nome da mãe como trampolim. Ainda assim, chamou atenção com uma proposta pop autoral e sofisticada, revelando seu talento através de videoclipes exibidos na MTV. Inicialmente lançou seus discos pela gravadora independente Jam Music, a mesma que abrigava os trabalhos de Jane. Em 2005, assinou com a EMI e lançou o álbum Você Não Me Conhece, de onde vem a faixa “Tal do Amor”, que reafirma sua identidade única na cena pop nacional.

A carreira de Moraes Moreira dispensa comentários. Integrante fundamental dos Novos Baianos, ele seguiu trajetória solo brilhante, acumulando quase 30 álbuns ao longo de quase 50 anos de carreira. A faixa “Meu Namoro” foi extraída do CD O Brasil Tem Conserto, de 1995 — um disco que, curiosamente, ainda não está disponível nas plataformas digitais. A música ganhou projeção ao integrar a trilha da novela Irmãos Coragem (remake de 1995), reforçando a conexão do artista com o universo da teledramaturgia.
Seu filho, Davi Moraes, começou a despontar por volta de 2002, assinando com a Universal Music, que lançou seu álbum de estreia Papo Macaco. Seu repertório fonográfico ainda é enxuto, mas carrega peso simbólico — como sua gravação exclusiva para a trilha de Amor e Intrigas (2008), marcando um dos seus momentos mais relevantes como artista solo na TV.

Se por um lado a trajetória de quase 60 anos de carreira de Márcio Greyck nos deixa praticamente sem palavras — afinal, ele foi uma verdadeira fábrica de sucessos entre as décadas de 70 e 80 —, o mesmo podemos dizer do talentoso filho, Bruno Miguel, embora por um motivo diferente: sua presença na música é bem mais discreta. Bruno fez sua estreia como cantor com a canção “Faz Assim”, tema da novela Malhação em 2003, e só viria a lançar seu primeiro (e até hoje único) álbum  pela Deckdisc em 2009. Como também é ator, acabou se dedicando mais à dramaturgia do que à música.
Márcio ainda é pai de Raphael Greyck, que também tentou seguir carreira de cantor. Porém, seu nome ganhou maior notoriedade com a participação na trilogia Luau da Deckdisc — uma série de projetos acústicos que regravavam clássicos da MPB e venderam bastante durante a década de 2000. Talvez por isso a vertente autoral de Raphael tenha ficado em segundo plano… o que explica sua ausência nesta edição organizada por Marcelo Silva. Quem sabe no Volume 2? rs...

Por fim, não poderia faltar Martinho da Vila, com o hino “Mulheres” — um dos maiores sucessos de sua carreira, lançado em 1995 no álbum Tá Delícia, Tá Gostoso. É curioso notar como, apesar de ser um verdadeiro celeiro de talentos, o Brasil muitas vezes negligencia a valorização de seus artistas, numa espécie de síndrome de vira-lata cultural. Enquanto isso, no exterior, há uma admiração constante pela cadência do samba, pela bossa nova, pelo choro, pelo axé e tantos outros ritmos que nasceram aqui.
Um episódio recente reforça essa influência: o compositor Toninho Geraes, autor de “Mulheres”, identificou semelhanças marcantes entre sua obra e a canção “Million Years Ago”, de Adele. O alerta veio justamente de fãs brasileiros, que criaram um mashup com uso de inteligência artificial, escancarando o plágio que antes passava despercebido. O caso chegou aos tribunais e garantiu mais visibilidade para a canção — mais uma prova de como a música brasileira ecoa mundo afora, mesmo quando não é devidamente reconhecida.
Sua filha, Mart’nália, que o acompanhava nos palcos desde jovem, lançou seu primeiro LP em 1987 pela 3M do Brasil, ainda aos 21 anos. No entanto, sua carreira como cantora solo só deslanchou de fato 15 anos depois, com o álbum Pé do Meu Samba (2002), quando decidiu sair da sombra do pai e construir sua própria trajetória. Aqui em “Namora Comigo”, canção que conta com Djavan na guitarra e nos vocais de apoio, encerra-se a coletânea com um encontro de gerações e talentos.

Duas gerações. Um só coração musical.
Essa coletânea não é apenas sobre sucessão artística — é sobre herança, memória e o poder da música de atravessar o tempo.
De pais e mães para filhos e filhas. De coração para coração.

A seguir a tracklist dos dois CDs com links para download em FLAC (Lossless)

Faixas do CD 1 - link para baixar AQUI
01. Trem Azul (DJ Zé Pedro Remix) - Elis Regina
02. Flor do Futuro - João Marcello Bôscolli
03. Preciso Dizer que Te Amo (Ao Vivo) - Pedro Mariano
04. Tá Perdoado - Maria Rita
05. Azul (Remix) - Djavan
06. Canções de Rei - Max Viana
07. Vem Cuidar de Mim - Zezé di Camargo & Luciano
08. Tanta Saudade (Heaven Came Down) - Wanessa Camargo
09. Amigo É pra Essas Coisas - João Nogueira part. esp. Emílio Santiago
10. Sou Eu - Diogo Nogueira
11. Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda - Jair Rodrigues
12. Bom Dia, Anjo - Jair Oliveira
13. Simples Desejo - Luciana Mello
14. O Bem do Mar - Dorival Caymmi
15. Nada a Perder - Danilo Caymmi
16. Saudade de Amar - Nana Caymmi
17. É Doce Morrer no Mar - Dori Caymmi

Faixas do CD 2 - link para baixar AQUI
01. Palco - Gilberto Gil
02. Mutante - Preta Gil
03. Fogo e Paixão - Fábio Jr.
04. Quero Toda Noite (Deeplick Remix) - Fiuk part. esp. Jorge Benjor
05. Explode Coração (Ao Vivo) - Zizi Possi
06. Cantar - Luiza Possi
07. Só Nós Dois - Jane Duboc
08. Tal do Amor - Jay Vaquer
09. Amor - Ivan Lins part. esp. Lucinha Lins
10. Cair e Chegar - Cláudio Lins
11. Coração Sertanejo - Chitãozinho & Xororó
12. Tudo pra Você - Sandy & Junior
13. Meu Namoro - Moraes Moreira
14. Como É Grande o Meu Amor por Você - Davi Moraes
15. Aparências (Acústico) - Márcio Greyck
16. Sem Querer (Loving You) - Bruno Miguel
17. Mulheres - Martinho da Vila
18. Namora Comigo - Mart'nália part. esp. Djavan

Um comentário:

  1. Que delícia de texto, meu amigo. Lembro que foi tão gostoso fazer essa seleção. Ouço sempre que posso e curto demais até hoje.

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