🎧 "Seu Jeito de Amar" (1988): A Redescoberta do Intérprete Peninha e os Desafios de uma Master Histórica
O álbum de 1988 de Peninha — cujo nome de batismo é Aroldo Alves Sobrinho —, com o sucesso "Seu Jeito de Amar" (Continental), é um registro essencial da MPB romântica que serve para reafirmar o valor discográfico do artista como cantor e intérprete. Esse valor foi historicamente subestimado, até mesmo por ele em suas afirmações, talvez ofuscado pela falta de produção em grande escala e, principalmente, por sua notável carreira como compositor.
Peninha é paulistano de nascença, tendo alcançado sucesso reconhecido internacionalmente na década de 70 (com LPs como Sonhos, de 1977, e Emoções, de 1979, pela Polydor, e o sucesso de "Sonhos" gravado em espanhol). Além disso, compôs para feras da música canções como "Sozinho" (Tim Maia, Sandra de Sá e Caetano Veloso), "Tá Combinado" (Maria Bethânia e Caetano Veloso), "Alma Gêmea" (Fábio Jr), "Vou Levando a Vida", "Vai Dar Samba" e "Adoro Amar Você" (Daniel), "Nosso Sonho Não É Ilusão" (Só Pra Contrariar), "É Ouro Pra Mim" (Renata Arruda), "Sonhos" (Caetano Veloso e Paulinho Moska), "Que Dure Para Sempre" (João Paulo & Daniel e Negritude Jr), entre outros.
Peninha viveu um hiato discográfico na primeira metade dos anos 80, período em que transitou com o lançamento de compactos (como o de 1983, pela CBS) e Todas as Auroras (LP de 1986, pela Continental), concentrando-se na composição para outros artistas.
Lançar seu segundo álbum pela Continental em 1988 demonstra um esforço renovado para consolidar sua marca como cantor. Sua relevância como cantor era claramente reconhecida e endossada por seus pares na indústria musical, mas, talvez, subestimada pelo próprio cantor.
O Prestígio na Ficha Técnica
Peninha sempre foi conhecido por compor para artistas do segmento popular, mas a ficha técnica deste LP atesta a seriedade do projeto e o reconhecimento de seus pares como intérprete. O projeto contou com a produção de Arnaldo Sacomani, a direção de Laca Salvia e a produção executiva de Frankkye Arduini.
O prestígio se confirma na distribuição dos arranjos, confiados a uma elite de mestres:
Cido Bianchi ("Quem Eu Quero É Você")
Julinho Teixeira ("Seu Jeito de Amar")
Mário Lúcio ("Lingerie")
Lincoln Olivetti ("Meu Destino", "Emoção", "Por Nós Dois" e "Coração")
Bozo Barreti ("Folhas de Outono", "Planeta Sedução" e "Só Queria Você Aqui")
Um Desafio Logístico e Estrutural
Este registro teve complexa logística de produção da Continental, sendo gravado em 3 locais distintos: nos estúdios Transamérica e Novo Estúdio, em São Paulo (com engenheiros como Carlinhos de Freitas e Zezinho), e no estúdio particular de Lincoln Olivetti, no Rio de Janeiro.
Essa gravação descentralizada e o uso de fitas mestras com características diferentes impôs um desafio severo à fase de finalização. A disparidade das masters e o caminho logístico encurtaram o prazo para a editagem (a cargo de Edson Marques) e a supervisão de corte (com José Antonio). Mesmo com o trabalho da equipe técnica — que incluiu o assistente de gravação Cássia —, a dificuldade de harmonização resultou em um ruído estrutural perceptível no produto final (LP e K7).
O trabalho de resgate revelou essa precariedade: o chiado e a leve "rachadura" no som persistiram mesmo após a aplicação da técnica de limpeza MVSep, confirmando origem na fita matriz. A busca de Olivetti, Barreti e equipe por um som moderno era, assim, uma luta para unificar a qualidade inconsistente das gravações de base da Continental.
O Ruído como Assinatura Histórica
Engana-se quem pensa que esse desafio era apenas da Continental. O desafio na digitalização não se limitava à Continental. Gravadoras como Copacabana e RGE também enfrentavam problemas estruturais semelhantes em suas masters e fluxos de trabalho.
O fato de a gravação original já apresentar ruído significava que o vinil prensado tinha uma margem de erro mínima em relação à conservação. Por isso, a reputação de que os discos dessas gravadoras são difíceis de trabalhar é comum entre colecionadores. O problema não reside unicamente no disco em si, mas na amplificação dos ruídos da master original por qualquer cópia em qualidade VG (Very Good) ou G (Good), o que torna a digitalização de alta fidelidade custosa e complexa.
É por essa razão que o LP de Peninha em condição mint [perfeito] era essencial. Ele permitiu isolar o problema estrutural e realizar a justiça sonora para o conjunto da obra, um trabalho que seria inviável em cópias com desgaste.
Quatro faixas do LP de 1988 foram pescadas para a coletânea Popularidade (2000): "Por Nós Dois", "Seu Jeito de Amar", "Planeta Sedução" e "Emoção". O resto, jamais foi revitalizado. A Continental teve uma coletânea lançada pela Phonodisc, colocando Todas as Auroras (1986) do lado do Feliz de Jane Duboc. Mas os LPs de 1988 e 1990 jamais ganharam merecidas remasterizações, mesmo com o respeito que eles merecem.
A presença de Nando Cordel, Altay Veloso e da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas atesta a alta qualidade do repertório. É notável a integração total entre produção, arranjo e composição: "Meu Destino" é co-escrita pelo produtor Arnaldo Sacomani, e "Coração" é assinada pelo arranjador Lincoln Olivetti. Além disso, o próprio Peninha contribui com suas composições românticas, como a notável "Só Queria Ter Você Aqui" e "Folhas de Outono".
02. Planeta Sedução (Nando Cordel)
03. Quem Eu Quero É Você (Cléo Galante e Cido Bianchi)
04. Emoções (Altay Veloso)
05. Por Nós Dois (Michael Sullivan e Paulo Massadas)
06. Meu Destino (Thomas Roth e Arnaldo Sacomani)
07. Coração (Lincoln Olivetti, Robson Jorge e Claudia Olivetti)
08. Só Queria Ter Você Aqui (Peninha)
09. Folhas de Outono (Peninha e Nicéias Drumont)
10. Lingerie (Lula Barbosa)

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