O Despertar de uma Dinastia: Chitãozinho & Xororó e a Fusão Sertaneja-Iê-Iê-Iê (1972)
Existem momentos na história da música que parecem predestinados, e o álbum "A Mais Jovem Dupla do Brasil" é o marco zero de uma revolução. Lançado originalmente em 1972 pela Sinter/Phonogram, este disco não é apenas um item de colecionador, mas o documento de uma virada improvável que mudaria o curso da música popular brasileira.
A Vanguarda de Jovens Prodígios
Para entender este registro, é preciso olhar para a juventude por trás do microfone. Chitãozinho (José Lima Sobrinho) tinha apenas 18 anos e o seu irmão, o adolescente Xororó (Durval de Lima), tinha apenas 15 anos. Eles vinham de um momento amargo: após dois álbuns pela Copacabana que não atingiram o sucesso esperado, a gravadora cancelou o contrato por acreditar que a dupla não teria futuro. Mal sabiam que a Sinter, ao acolhê-los na Estrada das Furnas, estava registrando o nascimento de gigantes que o mercado, anos depois, teria que recontratar a peso de ouro.
Soma-se a esse fenômeno a presença de Marciano (José Marciano). Nascido em 1951, o futuro "Inimitável" era também um jovem de apenas 21 anos que já atuava como o arquiteto lírico fundamental da dupla, assinando joias como "Não é Papel de Gente", "Filha de Jesus" e "Menina Sorriso".
O Sertanejo Encontra o Iê-Iê-Iê
O grande trunfo deste álbum é a sua coragem estética. Em uma época em que o gênero era visto como algo estático e restrito ao interior, esses jovens trouxeram a influência vibrante da Jovem Guarda para dentro do estúdio.
O repertório é uma mescla audaciosa: de um lado, a tradição de mestres como Geraldo Meirelles e Goiá; de outro, o balanço do Iê-Iê-Iê que dominava as rádios. Essa fusão é nítida na bateria marcada, nos arranjos e na interpretação enérgica de faixas como "Vai Caindo uma Lágrima" e "O Nosso Dia Também Chegará". Eles provaram que o sertanejo podia ser jovem, elétrico e moderno, pavimentando o caminho para tudo o que o gênero se tornaria nas décadas seguintes.
Restauração Técnica: A Verdade do Som no Gazeta do Som
Este projeto é um resgate rigoroso contra o tempo e o desgaste físico dos materiais originais. Partindo da extração do LP feita por Valter Jesus, o áudio recebeu um tratamento especializado para brilhar novamente:
Processamento: Limpeza de cliques, hiss e restauração de dinâmica via iZotope RX7 e Ozone 11.
Refino Final: Aplicação de camada de MVSep DeNoise, garantindo a remoção de impurezas residuais sem afetar o "calor" e o brilho das vozes originais gravadas na Phonogram.




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