O diretor artístico Moacyr Machado e o coordenador de produção Mickael nesse disco deram total liberdade criativa ao Biafra, que é co-autor de quase todas as faixas. Seu album reune duas produções distintas no mesmo LP, que acabaram gerando uma manifesta inconsistência de áudio na mídia física.
⚙️ A Causa da Inconsistência de Áudio
A decisão da 3M de usar duas produções com filosofias e equipamentos distintos, prensadas no mesmo disco trouxe uma idéia inovadora ao case empresarial, mas com ela incauculada consequência:
Lado A (Produção de Piska): Produção dominada por Piska (arranjos, instrumentação) e mixada por Primo no Estúdio Mosh. É uma produção com metodologia analógica e orgânica com músicos de sessão convidados como Lino Simão e Sérgio Della Monica. Embora a técnica seja toda analógica, a qualidade dos tapes do Mosh é visivelmente superior na prensagem.
Lado B (Produção de Guto Graça Mello): A produção é de Guto Graça Mello, com Lincoln Olivetti atuando como arranjador, técnico de gravação e mixagem nos Estúdios GGM e Floresta. O foco era a tecnologia digital e experimental da época, utilizando um arsenal de samplers e teclados comandados por um computador Macintosh Plus. Entretanto, o desafio – e talvez o maior risco – foi transcrever toda essa magia digital para uma fita analógica.
Eu tinha uma cópia de LP em estado de conservação VG, com uma quantidade de ruído suficiente para ter uma qualidade de áudio prejudicada. Entretato até adquirir uma cópia Mint, pensava que o problema estava no desgaste do vinil causado pela má armazenagem e manuseio. Ao ler a ficha técnica, constatei estas duas produções, mas não entendi a discordância sonora entre as duas fontes gravadas.
Não se pode afirmar que houve colisão entre duas escolas de engenharia e instrumentação pois a unificação do analógico com o digital deveria ter sido o maior case de sucesso da 3M e firmado o artista entre os mais sofisticados artistas do pop brasileiro, uma vez que as duas sessões traziam composições e arranjos igualmente excelentes, mas foi que acabou vítima de um conflito sonoro de masterização.
Na Sessao do Lado B percebe-se menos preenchimento da parte média do áudi, resultando em um som mais agudo e grave, causada por essa discordância de padronização de equalização das fitas master de diferentes estúdios (o som orgânico de Piska vs. o som digital de Olivetti). Não há outra explicação a não ser a escassez de tempo e a pressão de mercado, que resultaram na forma apressada com que o conteúdo completo foi masterizado, sem o devido cuidado. O material de Olivetti, sendo experimental e digital, demandava um tempo de projeto maior do que o disponível para a transposição e equalização para o vinil. Em retrospecto, o conteúdo gigante de Olivetti foi gestado no contexto de tempo errado para a 3M.
O LP foi foi ripado em maio de 2024 utilizando uma agulha Ortofon Concorde Mix. No entanto, visando garantir a máxima fidelidade sonora e combater o ruído inerente à prensagem do vinil da 3M, em 05 de novembro de 2025 foi aplicada a técnica de De-Noising utilizando o MVSep.
01. Estrelas no Ar (Piska e Cláudio Rabello)
02. Até o Fim (part. esp. Sandra Sá) (Piska e Biafra)
03. Não Mais (Piska e Piafra)
04. Bom Demais (part. esp. Pepeu Gomes) (Piska e Biafra)
05. Se For Tarde Demais (Piska e Biafra)
06. Nenhum Lugar (Louco) (Dalto e Cláudio Rabello)
07. Não Vou Crescer (Biafra, Lincoln Olivetti e Robson Jorge)
08. Menino Sem Juízo (Biafra, Nilo Pinta e Marco Valença)
09. Minha Estrela (Biafra, Nilo Pinta e Marco Valença)
10. A Dama e o Vagabundo (Biafra, Nilo Pinta e Marco Valença)

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