terça-feira, 4 de novembro de 2025

Patrícia Marx - Patrícia (1988)

"Patrícia" é o segundo álbum de estúdio da cantora Patrícia Marx (na época creditada como Patrícia), lançado em 1988 pela RCA/BMG Ariola. O disco solidificou sua transição da fase do Trem da Alegria para uma artista pop adolescente, mantendo a pegada pop e teen que a consagrou, mas investindo em um repertório mais maduro e em uma produção de alto nível.

O álbum foi um grande sucesso comercial, seguindo o êxito de seu antecessor, "Paty" (1987). Vendeu mais de 250 mil cópias no Brasil e garantiu mais um Disco de Platina para a artista.

A produção musical ficou a cargo, em grande parte, de Michael Sullivan, seu colaborador desde a época do Trem da Alegria, ao lado de Paulo Massadas, a famosa dupla que dominava as paradas da época. Além deles, o álbum contou com arranjos e regência de nomes importantes como o grupo Roupa Nova, Sérgio Sá e Lincoln Olivetti, reforçando a qualidade sonora do trabalho.

"Amor É Sempre Amor (As Time Goes By)" foi o tema romântico da novela "Vida Nova" da Rede Globo. É uma versão em português do clássico atemporal do filme Casablanca.

"Pra Quê Se Complicar (Let´s Wait a While)" é a versão em português de um sucesso da cantora americana Janet Jackson que foi tema da novela Brega & Chique.

Outros hits de destaque que se tornaram muito populares foram "Certo ou Errado" e "Doçura", esta última, com uma sonoridade que remete a Debbie Gibson, Madonna e Tiffany, cantoras do pop internacional de destaque entre os joven

O LP foi remasterizado com agulha Ortofon Concorde Club em janeiro de 2025 e, em 03/11/2025, apliquei MVSep DeNoise para limpeza de rumble e hiss do vinil. Essa combinação busca extrair o máximo de detalhe do sulco original, minimizando ruídos característicos do formato analógico.

Faixas:
01. Certo ou Errado (Paulo Massadas, Michael Sullivan)
02. Quando Estou com Você (Paulo Sérgio Valle, José Augusto)
03. Doçura (Mauro Motta, Cláudia Olivetti, Lincoln Olivetti, Robson Jorge)
04. Cedo Demais (Chico Roque, Ed Wilson, Carlos Colla)
05. Não Quero Perder (Ulisses Tavares, Sérgio Sá)
06. Amor É Sempre Amor (As Time Goes By) (Herman Hupfeld; Versão: Sérgio Sá)
07. É Tempo de Amar (Paulo Massadas, Michael Sullivan)
08. Pra Quê Se Complicar (Let´s Wait a While) (Janet Jackson, J. Harris III, T. Lewis, M. Andrews; Versão: Sérgio Sá)
09. Desejo Secreto (Paulo Massadas, Michael Sullivan)
10. Meu Diário (Paulo Massadas, Michael Sullivan)
11. Todos os Sentidos (Mazinho Turle, Dilson Gunani)
12. Labirinto de Sonhos (Sérgio Sá)

Para baixar o album em FLAC, clique AQUI.

Patrícia Marx - Paty (1987)


"Paty" é o 1º album da cantora Patrícia Marx lançado na transição de carreira dentro do grupo Trem da Alegria para a carreira solo. Por ter sido lançado a toque de caixa, o LP traz a repescagem "Abra a Boca e Feche os Olhos" do 3º disco do Trem da Alegria de 1987 e "Sonho Adolescente", que trata-se de adaptação de letra para a melodia da canção "Meu Pequeno Tommy", presente no 1º album do Trem da Alegria, feita por Michael Sullivan e Paulo Massadas, o que de fato soa esquisito se comparadas as letras e se considerado que em ambas as versões a Patrícia cantou e na segunda ela perde a inocência.

O album segue com carro chefe "Festa do Amor" que explodiu graças ao embalo anos 60 que ela trouxe para a novela Bambolê, além dos hits "Te Cuida Meu Bem" e "To Be Or Not To Be". Todas as músicas do disco são compostas por Sullivan & Massadas, com exceção de "Vivo Sonhando", que é de Antonio Carlos Jobim.

Embora o album tenha sido lançado nas plataformas digitais na segunda quinzena de janeiro de 2025, eu acabei fazendo antes as remasterizações dos discos da Patrícia.

Com exceção de "Vivo Sonhando", que foi extraído do CD "As Melhores da Patrícia" de 1991, o restante do album é extraído do LP com agulha Ortofon Concorde Club (Elíptica). Todas as faixas passaram pelo processo de limpeza com MVSep DeNoise em 03/11/2025.

Faixas: 
01. To Be Or Not To Be
02. Quem Me Dera...
03. Coração na Mão
04. Vivo Sonhando
05. Festa do Amor (tema da novela Bambolê)
06. Te Cuida Meu Bem
07. Raio de Luar
08. Sonho Adolescente
09. Abra a Boca e Feche os Olhos

Para baixar o arquivo em FLAC, clique AQUI.

domingo, 2 de novembro de 2025

Peninha - Peninha (1988)


🎧 "Seu Jeito de Amar" (1988): A Redescoberta do Intérprete Peninha e os Desafios de uma Master Histórica

O álbum de 1988 de Peninha — cujo nome de batismo é Aroldo Alves Sobrinho —, com o sucesso "Seu Jeito de Amar" (Continental), é um registro essencial da MPB romântica que serve para reafirmar o valor discográfico do artista como cantor e intérprete. Esse valor foi historicamente subestimado, até mesmo por ele em suas afirmações, talvez ofuscado pela falta de produção em grande escala e, principalmente, por sua notável carreira como compositor.

Peninha é paulistano de nascença, tendo alcançado sucesso reconhecido internacionalmente na década de 70 (com LPs como Sonhos, de 1977, e Emoções, de 1979, pela Polydor, e o sucesso de "Sonhos" gravado em espanhol). Além disso, compôs para feras da música canções como "Sozinho" (Tim Maia, Sandra de Sá e Caetano Veloso), "Amarrados" e "Alma Gêmea" (Fábio Jr), "Vou Levando a Vida", "Pra Falar a Verdade", "Vai Dar Samba" e "Adoro Amar Você" (Daniel), "Nosso Sonho Não É Ilusão" (Só Pra Contrariar), "É Ouro Pra Mim" (Renata Arruda), "Sonhos" (Caetano Veloso e Paulinho Moska), "Que Dure Para Sempre" (João Paulo & Daniel e Negritude Jr), "Só Com Você" (Raça Negra), entre outros.

Peninha viveu um hiato discográfico na primeira metade dos anos 80, período em que transitou com o lançamento de compactos (como o de 1983, pela CBS) e Todas as Auroras (LP de 1986, pela Continental), concentrando-se na composição para outros artistas.

Lançar seu segundo álbum pela Continental em 1988 demonstra um esforço renovado para consolidar sua marca como cantor. Sua relevância como cantor era claramente reconhecida e endossada por seus pares na indústria musical, mas, talvez, subestimada pelo próprio cantor.

O Prestígio na Ficha Técnica

Peninha sempre foi conhecido por compor para artistas do segmento popular, mas a ficha técnica deste LP atesta a seriedade do projeto e o reconhecimento de seus pares como intérprete. O projeto contou com a produção de Arnaldo Sacomani, a direção de Laca Salvia e a produção executiva de Frankkye Arduini.

O prestígio se confirma na distribuição dos arranjos, confiados a uma elite de mestres:

  • Cido Bianchi ("Quem Eu Quero É Você")

  • Julinho Teixeira ("Seu Jeito de Amar")

  • Mário Lúcio ("Lingerie")

  • Lincoln Olivetti ("Meu Destino", "Emoção", "Por Nós Dois" e "Coração")

  • Bozo Barreti ("Folhas de Outono", "Planeta Sedução" e "Só Queria Você Aqui")

Um Desafio Logístico e Estrutural

Este registro teve complexa logística de produção da Continental, sendo gravado em 3 locais distintos: nos estúdios Transamérica e Novo Estúdio, em São Paulo (com engenheiros como Carlinhos de Freitas e Zezinho), e no estúdio particular de Lincoln Olivetti, no Rio de Janeiro.

Essa gravação descentralizada e o uso de fitas mestras com características diferentes impôs um desafio severo à fase de finalização. A disparidade das masters e o caminho logístico encurtaram o prazo para a editagem (a cargo de Edson Marques) e a supervisão de corte (com José Antonio). Mesmo com o trabalho da equipe técnica — que incluiu o assistente de gravação Cássia —, a dificuldade de harmonização resultou em um ruído estrutural perceptível no produto final (LP e K7).

O trabalho de resgate revelou essa precariedade: o chiado e a leve "rachadura" no som persistiram mesmo após a aplicação da técnica de limpeza MVSep, confirmando origem na fita matriz. A busca de Olivetti, Barreti e equipe por um som moderno era, assim, uma luta para unificar a qualidade inconsistente das gravações de base da Continental.

O Ruído como Assinatura Histórica

Engana-se quem pensa que esse desafio era apenas da Continental. O desafio na digitalização não se limitava à Continental. Gravadoras como Copacabana e RGE também enfrentavam problemas estruturais semelhantes em suas masters e fluxos de trabalho.

O fato de a gravação original já apresentar ruído significava que o vinil prensado tinha uma margem de erro mínima em relação à conservação. Por isso, a reputação de que os discos dessas gravadoras são difíceis de trabalhar é comum entre colecionadores. O problema não reside unicamente no disco em si, mas na amplificação dos ruídos da master original por qualquer cópia em qualidade VG (Very Good) ou G (Good), o que torna a digitalização de alta fidelidade custosa e complexa.

É por essa razão que o LP de Peninha em condição mint [perfeito] era essencial. Ele permitiu isolar o problema estrutural e realizar a justiça sonora para o conjunto da obra, um trabalho que seria inviável em cópias com desgaste.

Quatro faixas do LP de 1988 foram pescadas para a coletânea Popularidade (2000): "Por Nós Dois", "Seu Jeito de Amar", "Planeta Sedução" e "Emoção". O resto, jamais foi revitalizado. A Continental teve uma coletânea lançada pela Phonodisc, colocando Todas as Auroras (1986) do lado do Feliz de Jane Duboc. Mas os LPs de 1988 e 1990 jamais ganharam merecidas remasterizações, mesmo com o respeito que eles merecem.

A presença de Nando Cordel, Altay Veloso e da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas atesta a alta qualidade do repertório. É notável a integração total entre produção, arranjo e composição: "Meu Destino" é co-escrita pelo produtor Arnaldo Sacomani, e "Coração" é assinada pelo arranjador Lincoln Olivetti. Além disso, o próprio Peninha contribui com suas composições românticas, como a notável "Só Queria Ter Você Aqui" e "Folhas de Outono".

01. Seu Jeito de Amar (Gilson e Joran)
02. Planeta Sedução (Nando Cordel)
03. Quem Eu Quero É Você (Cléo Galante e Cido Bianchi)
04. Emoções (Altay Veloso)
05. Por Nós Dois (Michael Sullivan e Paulo Massadas)
06. Meu Destino (Thomas Roth e Arnaldo Sacomani)
07. Coração (Lincoln Olivetti, Robson Jorge e Claudia Olivetti)
08. Só Queria Ter Você Aqui (Peninha)
09. Folhas de Outono (Peninha e Nicéias Drumont)
10. Lingerie (Lula Barbosa)

Para baixar o album remasterizado em FLAC, clique AQUI.

Leonardo - Veneno, Mel e Sabor (1989)

 

🎧 Arqueologia Sonora: O Resgate de "Evidências" e o Master Esquecido de Lincoln Olivetti (1989)

Por Denis Gazeta, Gazeta do Som Masters

O álbum Veneno, Mel e Sabor (1989) do cantor e compositor Leonardo — que na época assinava apenas com seu primeiro nome (adotando o sobrenome Sullivan somente em 2002, para se diferenciar do sucesso da dupla sertaneja) — é um dos artefatos mais curiosos e historicamente importantes da música pop romântica brasileira. Gravado para a Continental em uma fase de grande efervescência do pop nacional, o LP guarda o registro original daquela que se tornaria o "segundo hino nacional": "Evidências". O resgate sonoro deste álbum pela Gazeta do Som Masters, portanto, é uma dupla correção histórica.

O Contexto da Produção

A ficha técnica do LP revela a estrutura que a Continental Wheaton do Brasil S/A (produtor fonográfico) montou para o projeto, em co-produção com a Discofita Distribuidora. A direção artística ficou a cargo de Matheus Nazareth, com a gerência de Mauro Almeida. O disco contou com a assistência de produção de Liebert Ferreira Pinto e, notavelmente, com a produção artística de Michael Sullivan e arranjos de Lincoln Olivetti. A excelência técnica foi garantida por engenheiros de gravação de peso como o próprio Lincoln Olivetti, Felipe Neri e Eduardo Costa, com a supervisão de corte de Oswaldo Martins e a editagem de Edson Marques e Julio Victor.

A Contradição Editorial em que o Hit nasceu

A canção, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle, carrega a história de uma rejeição estratégica que moldaria o destino da música. "Evidências" foi originalmente oferecida à gravadora RCA. Conforme relatado pelo próprio José Augusto, a música foi rejeitada pelo corpo executivo, chefiado por Miguel Plopschi.

A ironia é notável: Plopschi era o grande padrinho e entusiasta da dupla de compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas. Ao ter sua música descartada por esse mesmo establishment, José Augusto não a viu como um rejeito, mas sim como um presente para Leonardo, o irmão de Michael Sullivan, que tentava firmar sua carreira na gravadora rival, a Continental.

Este não foi um ato casual. Segundo Leonardo Sullivan, a gravação de "Evidências" foi escolhida a dedo por José Augusto, em um gesto de reciprocidade e admiração, uma vez que José Augusto já havia gravado "Meu Dilema", canção de autoria de Leonardo e Michael Sullivan, demonstrando que a relação entre os artistas era de profunda colaboração.

Para comprovar que essa entrega não foi um ato de retaliação, mas uma relação profissional contínua, o álbum de 1989 já contava com outras faixas da dupla Sullivan & Massadas ("Não Faz Mal" e "Nossa História") e de José Augusto & Paulo Sérgio Valle ("Cidade Grande"). O desprezo por "Evidências" foi, portanto, um erro de avaliação editorial sobre o potencial do hit, e não um rompimento de relações.

O Teste de Campo e o Legado de Lincoln Olivetti

O álbum Veneno, Mel e Sabor foi o único de Leonardo na Continental, que também falhou em reconhecer o hit. Embora "Evidências" fosse a faixa de abertura do Lado A, a gravadora focou sua divulgação em "Só o Tempo Vai Dizer" (que se tornou o sucesso daquele álbum). "Evidências" acabou sendo uma canção tocada apenas em rádios locais. No entanto, foi o suficiente para que a dupla Chitãozinho & Xororó a ouvisse e solicitasse a José Augusto para o repertório.

Essa primeira validou o potencial da canção para o mercado. O próprio Leonardo Sullivan confirmaria, posteriormente, que o arranjo de Lincoln Olivetti (o "Mago do Pop") se tornou a matriz sonora mantida por praticamente todos os artistas que gravaram a música em seguida. A lição foi valiosa: José Augusto percebeu que o sucesso de sua autoria não dependia de sua voz, um amadurecimento que o levou a acertar no timing de lançamento de seu próprio hit em 1990, "Aguenta Coração" (Ed Wilson, Prêntice e Paulo Sérgio Valle).

O Reconhecimento Tardo da Indústria: O erro de avaliação das gravadoras foi corrigido tardiamente, mas formalmente, no ambiente digital. Em 1995, a RCA/BMG incluiu a versão de Leonardo de "Evidências" na sua prestigiada série "Grandes Autores" de José Augusto – um reconhecimento implícito da importância daquela primeira gravação. Dois anos depois, em 1997, a Continental destacou a faixa no CD "O Passado É Uma Parada 9", a única faixa do álbum Veneno, Mel e Sabor levada para o digital, selando o resgate do hit por ambas as partes.

A Minúcia Textual que Lapidou o Hino

A versão definitiva de Chitãozinho & Xororó passou por uma sutil, mas poderosa, alteração textual que a catapultou ao sucesso maciço no universo sertanejo-romântico. A Gazeta do Som Masters aponta que a versão de Leonardo cantava o final com a esperança do retorno: "Diz que é verdade, Que tem saudade, Que um dia você vai voltar pra mim". Já a versão de Chitãozinho & Xororó intensificou a súplica e a dependência com as frases "que ainda você pensa muito em mim" e "que ainda você quer viver pra mim", lapidando o texto para o pathos do sertanejo.

O Selo Gazeta do Som Masters: Resgate da Fidelidade

O trabalho de resgate desta obra-prima técnica de 1989 revela o rigor do Mago do Pop: o material original estava excelente na gravação, necessitando apenas de uma filtragem de leve hiss e remoção de rumble.

A relevância deste master é sublinhada pela precariedade das cópias digitais atuais. Embora o álbum tenha chegado às plataformas de streaming em 2021, a versão digitalizada pelo próprio artista é de qualidade inferior e carece da identidade visual original, omitindo o logo da Continental.

A digitalização da Gazeta do Som Masters, realizada já em 2018, a pedido do amigo Deassis Medeiros e subitamente ter sido encontrado em um sebo como um tesouro, e a subsequente restauração profissional tornam este master o único registro fidedigno e de alta fidelidade do trabalho original de Lincoln Olivetti. É a pureza técnica que este marco merecia.

Faixas: 
01. Evidências (José Augusto / Paulo Sérgio Valle)
02. Me Leva no Teu Sonho (Leonardo / Petrúcio Amorim)
03. Cidade Grande (José Augusto / Paulo Sérgio Valle)
04. Dança da Paixão (Lincoln Olivetti / Robson Jorge / Claudia Olivetti)
05. Bem-Vinda (Petrúcio Amorim)
06. Só o Tempo Vai Dizer (Leonardo / Petrúcio Amorim)
07. Não Faz Mal (Michael Sullivan / Paulo Massadas)
08. Veneno, Mel e Sabor (Leonardo / Jorge Silva)
09. Nossa História (Michael Sullivan / Paulo Massadas)
10. Pra Acertar os Ponteiros (Leonardo / Maurílio Costa)

Para baixar este album incrível em FLAC, clique AQUI.

Biafra - Anjo da Guarda (1992)


🎧 Análise Definitiva: "Anjo da Guarda" (1992) de Biafra — O Álbum Obscuro, Remixado e Finalmente Resgatado

O álbum "Anjo da Guarda" (1992) de Biafra é mais do que um lançamento romântico; ele é um fascinante artefato da música pop brasileira, marcado por uma complexa colcha de retalhos de gravações e engenharia de som arriscada. Esta versão remasterizada que trazemos hoje oferece um novo olhar sobre um dos trabalhos mais obscuros e, ao mesmo tempo, intrigantes da carreira de Maurício Pinheiro Reis.

Contexto: Um Mosaico de Produções e Gravadoras

A discografia de Biafra no início dos anos 90 foi afetada por problemas editoriais. Após o lançamento do álbum homônimo de 1989 pelo selo Esfinge, que infelizmente faliu, o cantor precisou manobrar. Ele lançou “Minha Vida de Artista” (1990) pela CBS e, em 1992, chegou à RGE com “Anjo da Guarda”.

Embora oficialmente listado como álbum de estúdio, este trabalho é, na prática, uma coletânea não oficial montada para consolidar faixas inéditas e resgatar material perdido. A complexidade fica evidente na diversidade das equipes de produção:

  • As faixas "Me Olhe e Diga Sim", "Gotas de Amor" e "Relâmpago" são as verdadeiras inéditas do álbum, com produção assinada por Roger Henri e gravação de Garrafa.

  • "Te Amo", já um sucesso após ser tema da novela Salomé, teve produção e arranjo de Renato Ladeira e Julinho Teixeira.

  • As canções "Bye Bye" e "Machuca e Faz Feliz", por sua vez, vieram do álbum “Minha Vida de Artista”, produzidas por Roberto Menescal e gravadas e mixadas por seu irmão, Márcio Menescal, e provavelmente foram replicadas sem grandes alterações.

A Controvérsia Sonora: Remixagem, Cópia de Fita e o Veredito do MVSep

O núcleo da polêmica, e o ponto alto desta análise, são as quatro faixas resgatadas do álbum da falida Esfinge: "Água Marinha", "Foi Demais", "Fugir Não Dá" e "Só Você".

Com uma lacuna de três anos, a RGE e Biafra provavelmente não tiveram acesso aos masters originais, trabalhando apenas com cópias de segurança ou réplicas das fitas do álbum de 1989. Essa limitação forçou uma solução de emergência: a remixagem com a aplicação agressiva de efeitos da época (reverbs e gate drums), na tentativa de mascarar a perda de qualidade da fonte e fazer com que as canções soassem inéditas.

A natureza dessa discrepância foi confirmada em nosso processo de restauração: o MVSep DeNoise revelou uma pureza sonora notável nas faixas inéditas produzidas em 1992, enquanto as faixas resgatadas da cópia de 1989 apresentaram uma sujeira (ruído) muito mais pronunciada. Essa diferença técnica incontestável atesta que o álbum é um mosaico de qualidade sonora heterogênea. É justamente essa discrepância que nos leva à conclusão de que o álbum não foi lançado em CD na época para evitar que a alta fidelidade expusesse a verdade da produção, algo que o LP e o K7 conseguiam mascarar. A masterização final, unificando todo esse material, ficou a cargo de Cezar Barbosa.

O Resgate Definitivo: A Restauração com MVSep DeNoise

Ouvir "Anjo da Guarda" hoje, nesta versão, é valorizar não apenas a voz e o talento de Biafra, mas o esforço de resgate técnico. Graças a técnicas avançadas de isolamento, foi possível mitigar os ruídos e artefatos daquela controversa remixagem de 1992.

No entanto, o trabalho de restauração exigiu uma etapa mais profunda. Ao notar a persistência de alguns ruídos, decidi aplicar o MVSep diretamente sobre as pistas originais do álbum de 1989 para, então, usar partes limpas e isoladas dessas gravações de 1989 nas lacunas sonoras da versão de 1992, aplicando um reverb sutil que garantisse coesão sonora com a atmosfera proposta.

O resultado é um trabalho de arqueologia sonora que transforma um álbum que nasceu de um desafio de mercado em um tesouro que finalmente pode ser apreciado com a clareza que suas composições merecem. Esta é, sem dúvida, a edição definitiva para entender e apreciar a complexidade do álbum “Anjo da Guarda".

Para enriquecer esta edição definitiva, foi incluída como faixa bônus a canção "Fantasia Real". Lançada em 1993 na trilha da novela Mulheres de Areia, essa faixa é historicamente crucial, pois marca a última gravação de Biafra pela RGE antes de sua transição para a Continental, onde lançaria Infinito Amor em 1994. Essa composição de Dudu Falcão e Danilo Caymmi complementa perfeitamente a coesão romântica do álbum. Há fortes indícios de que o produtor musical foi Roger Henri — que já havia assinado três faixas do próprio “Anjo da Guarda” (1992). Para garantir que essa faixa soasse em sua melhor forma, realizei uma masterização especial: utilizando o Master Rebalance do iZotope Ozone 11, subimos o volume das baterias e depois dos vocais e, em seguida, aplicamos o Maximize Volume na opção Classic High End. O resultado é a cereja do bolo desta restauração.

Faixas: 
01. Relâmpago
02. Foi Demais
03. Me Olha e Diga Sim
04. Fugir Não Dá
05. Água Marinha
06. Gotas de Amor (Tu Corazón)
07. Bye Bye
08. Te Amo (Te Amo)
09. Só Você
10. Machuca e Faz Feliz (Song For You Anyway)
11. Fantasia Real (Bonus Track)

Para baixar este album em FLAC (Lossless), clique AQUI.

sábado, 1 de novembro de 2025

Som Maravilha (1982)

"Som Maravilha" é uma coletânea lançada em 1982 em LP e K7 pelo selo Play Produções e Gravações S/C Ltda, sob licença da RGE Fonográfica. 

A arte do disco é assinada por Kin Oluf e a seleção de repertório assinada por Ronaldo Cruz Assumpção e Neide Aparecida Alves Pereira"Som Maravilha" é definitivamente. um mosaico sonoro de tudo o que foi incrível na década de 80.

Na verdade, eu posso chamar o repertório de uma verdadeira curadoria musical, com fonogramas bem raros e canções bem emblemáticas. Destaques para "O Bom Seria", uma parceria de composição de Leci Estrada com Sérgio Sá (que faz vocal de apoio na faixa),  "A Vida Não Pode Parar" de Heraldo – irmão do Fábio Jr – em que os músicos do Roupa Nova participam, uma dobradinha de irmãos com "Alô" de Antonio Marcos e "Flores" de Mário Marcos, "Voltei pra Ficar" em um dos poucos registros de Cláudia Telles nos anos 80 e "Viva o Natural" do grupo Canto Novo.

O disco ainda apresenta  "Vira de Lado" do segundo disco lançado pelo Roupa Nova pela PolyGram, "O Jogo (Ha Ha)" destaque do album Brilho Novo do excelente Dudu França, "Fantasia" da fase pré-Rádio Taxi do cantor Maurício Gasperini, "De Repente California" em uma gravação de Ricardo Graça Melo que é destaque do filme Menino do Rio, "Era Um Dia" uma composição de Oswaldo Montenegro – e que foi tema da novela "O Homem Proibido" da TV Globo – interpretada pelo imortal Jessé e, talvez, o maior hit da coletânea "Reluz" do niteroiense Marcos Sabino. E pra não deixar de mencionar, um rock rural abre o disco, apresentado pelo incrível Renato Terra, "Flor do Campo", que está disponível no disco Nova Luz de 1982. 

Tenho que agradecer o canal Brazil Sound do YouTube por disponibilizar o áudio bruto da faixa "Viva o Natural" do grupo Canto Novo. Eu realizei uma remasterização da gravação. Ademais, regravei algumas faixas que já haviam sido extraídas da coletânea, mas dos albuns dos artistas. Foi o caso do Maurício, Renato Terra e Dudu França. Algumas recorri a material digital, mas em todas as faixas apliquei o MVSep DeNoise para cancelamento de ruído. Ficou bem bom!

Faixas: 
01. Flor do Campo - Renato Terra
02. De Repente Califórnia - Ricardo Graça Mello
03. Vira de Lado - Roupa Nova
04. Pra Sempre - Claudia Telles
05. Era Um Dia - Jessé
06. O Jogo (Ha Ha) - Dudu França
07. Bom Seria - Leci Strada
08. Reluz - Marcos Sabino
09. Fantasia - Maurício
10. A Vida Não Pode Parar - Heraldo
11. Alô - Antonio Marcos
12. Flores - Mario Marcos
13. Viva o Natural - Canto Novo

Para efetuar download do disco em FLAC, clique AQUI.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

José Augusto - José Augusto (1986)

"José Augusto" (álbum de 1986) é o 13º da carreira do cantor e marcou sua estreia pela gravadora RCA Victor, lançado em LP e K7. O álbum é notável por ter sido produzido com arranjos e regências do mestre Lincoln Olivetti.

Dele saíram hits como "Fantasias" (regravado por Leonardo em 2003) e a balada "Quero Dormir Cansado", versão adaptada por Márcio Antonucci (Os Vips) de um sucesso de Emmanuel de 1981.

A canção "De Repente o Amor" (versão em português de "De Repente El Amor", de Albert Hammond Jr. e Anahi van Zandweghe) merece destaque especial. A melodia original foi gravada por Lani Hall (esposa de Herb Alpert, da A&M Records) em dueto com Roberto Carlos. A versão em português de José Augusto foi sucesso em seu LP, mas marcou um conflito de interesses com o álbum Todas as Formas de Amor de Jane & Herondy, que também a gravou. Embora ambas as versões tenham feito sucesso, a divergência de mercado (com a RCA prensando o disco da 3M de Jane & Herondy) impediu a divulgação maciça de ambas as gravações simultaneamente.

Outras faixas notáveis são "Deus, o que Fazer?" (com Sérgio Reis) – que destaca José Augusto entre os entusiastas pela música sertaneja, Estela – trazendo um contexto pop juvenil e Linda Estrela, uma das quatro faixas compostas por Maurício Duboc e Carlos Colla As faixas liberadas em formato digital foram: Fantasias, Deus o Que Fazer, Relógio e O Que Você Quiser, o que torna a digitalização deste LP uma grande relíquia.

O LP foi remasterizado em Janeiro de 2025 com uso de agulha Ortofon Concorde Club e, em 31/10/2025, o áudio passou por reprocessamento no MVSep DeNoise para melhor aproveitamento sonoro.

Agradecimento especial à Janaína, proprietária da loja Leitura Para Todos - filial Americana/SP (link Instagram AQUI), que já me reconhece como pesquisador musical e sempre me atende com muita cortesia, com conversa amiga, oferecendo uma água gelada e o espaço pra garimpar os títulos que procuro.

Faixas:
01. Fantasias (José Augusto / Paulo Sérgio Valle) 
02. O que Você Quiser (Ed Wilson / Carlos Colla) 
03. Me Dá (Maurício Duboc / Carlos Colla) 
04. Linda Estrela (Maurício Duboc / Carlos Colla)
05. Quero Dormir Cansando (Manuel Alejandro / Ana Magdalena - Versão: Márcio Antonucci)
06. Estela (Joe / Tavinho Paes)
07. De Repente o Amor (Albert Hammond Jr. / Anahi van Zandweghe - Versão: José Augusto)
08. Doce Tentação (Maurício Duboc / Carlos Colla) 
09. Relógio (Prêntice / Paulo César Barros)
10. Deixa Acontecer (Michael Sullivan / Paulo Massadas)
11. Deus, o que Fazer? (part. esp. Sérgio Reis) (José Augusto)
12. Perdoa (Maurício Duboc / Carlos Colla)

Para baixar o album em FLAC, clique AQUI.